terça-feira, 14 de setembro de 2010

Como é a vida de um Astrônomo

"Noites e noites em claro, passadas na companhia de poderosos telescópios que apontam a imensidão do céu, num silêncio apenas quebrado pelo barulho do vento e o tritilar dos grilos. Essa é a visão mais tradicional do astrônomo, esse profissional da ciência tantas vezes confundido com adivinhos. Mas, por incrível que pareça, é uma visão bem distante do dia-a-dia dessa profissão. A Astronomia é diferente da maioria das outras ciências em que podemos interagir diretamente com o objeto de estudo. Afinal, não é possível dissecar, pesar, tocar ou realizar outros experimentos similares com uma estrela! Por outro lado, a luz que os corpos celestes emitem carregam informações que podem ser compreendidas pelo astrônomo. Seu trabalho consiste, resumidamente, de uma sistemática em que é preciso saber formular questões, pesquisar e obter dados relevantes, levantar hipóteses e então testá-las."
Com certeza, a vida de um astrônomo não é fácil!
Primeiro, pra ser um astrônomo tem que estudar muito, pra se formar demora bastante! Bacharelado: 4-5 anos, pós-graduação; mestrado: 2-3 anos, doutorado: 4-5 anos. Desde o ingresso no vestibular deve demorar uns 10 anos para se tornar doutor em astronomia. Mas a boa notícia é que já começamos a ganhar bolsa de estudos ainda no bacharelado (bolsa de iniciação científica). Nenhum estudante que eu conheça faz ou fez pós-graduação sem bolsa de estudos. A bolsa não é alta mas dá para viver. Tudo isto é válido para estudar no exterior também. Alguns países não exigem o título de mestrado antes de cursar o doutorado. Mas no Brasil é regra geral fazer mestrado. Existem alguns casos de alunos de doutorado sem título de mestrado, mas são casos especiais.
Segundo: Tem que ser muito dedicado, amar Astronomia mais que tudo pra aguentar tudo o que vier, noites mal dormidas, vários dias observando 'tal' ponto determinado, aquele tema.


Navegando pela Internet, sempre encontramos o que queremos. Assim foi comigo. Entre sites e blogs, achei este blog aqui, que me chamou bastante atenção: Mulher das Estrelas. A dona do blog é uma astrônoma, pelo que eu entendi, e ela responde perguntas sobre a sua profissão; o que precisa pra ser um astrônomo, quanto tempo demora, enfim. Aqui vai o post dela sobre como é a vida de um astrônomo.
"Primeiro, o astrônomo precisa obter tempo de observação em algum telescópio. Para tal é necessário enviar projetos para os diversos observatórios que possuem os instrumentos adequados à pesquisa em questão. Por exemplo, digamos que eu esteja interessada em saber porque as estrelas possuem cores distintas, e se as cores estão relacionadas com as outras propriedas físicas das estrelas, como por exemplo idade, massa, tamanho. Neste caso eu teria que observar uma amostra de estrelas de diversas cores com um instrumento que possa medir a intensidade do brilho utilizando diversos filtros de diversas cores. Neste caso eu estaria fazendo fotometria e necessitaria de uma câmera CCD (parecida com uma câmera digital acoplada ao telescópio) de boa qualidade e equipada com diversos filtros e boas condições atmosféricas durante a observação. Eu teria então que estimar quantas noites seriam necessárias para completar as observações e enviar o pedido para o observatório escolhido. Depois de julgado por uma comissão de especialistas o projeto poderia ser aprovado ou não. Caso fosse aprovado, bastaria comprar a passagem para a viagem, fazer a reserva no hotel do observatório e seguir para alguma montanha do mundo. Devo mencionar que geralmente o astrônomo vai observar com tudo pago por alguma agência de fomento à pesquisa. Os observatórios oferecem a logística necessária para o astrônomo se desligar do mundo e se concentrar nas observações. São várias noites, e em alguns casos até meses de observações e anos de preparação e análise dos dados. A vida de observador é uma vida fora da realidade, inclui dormir poucas horas, tomar café da manhã na hora do almoço e preparar o telescópio para a noite que em certas latitudes durante o inverno pode ser bem longa, chegando a mais de 13 horas consecutivas. Em alguns observatórios, o lanche da meia-noite é o high-light da noite. Astrônomos se revesam com os assistentes e colaboradores para um lanchinho que pode ser degustado no restaurante do observatório. No inverno, a esta altura o astrônomo já está observando a mais de 5 horas e um omelete quentinho tem um sabor inimaginável e recarrega as baterias para as outras 6-7 horas que vem pela frente.
Observatório Astronômico de La Silla (no Chile).
Em outros observatórios, o lanche da noite é preparado com antecedência pelos cozinheiros e entregue ao astrônomo antes de subir para observar ao entardecer. Hoje em dia o astrônomo passa pouco tempo na cúpula aberta onde fica o telescópio. Como tudo é computadorizado, o astrônomo, muitas vezes acompanhado de um assistente noturno, fica em uma sala de observações monitorando tudo pela tela do computador Uma sala típica de observação tem de tudo: computadores, livros, calculadoras, frutas, sanduíches, biscoitos, muito, muito café e música de fundo. Dependendo do tipo de observação o intervalo entre um objeto e outro a ser observado é relativamente grande. Muitas vezes o mesmo objeto precisa ser observado durante um longo período de tempo para que se obtenha uma boa imagem. Seria como tirar uma fotografia com o obturador da máquina aberto. A espera pode ser entediante e a internet ajuda a passar o tempo e a preparar os dados recém obtidos para a primeira análise. Mais para o fim da noite o cansaço vai batendo e a produtividade caindo. Eu combato o cansaço com música bem alta, e se estou sozinha canto e danço entre uma observação e outra. Sair caminhando pela montanha a noite é super interessante. Várias cúpulas abertas com os telescópios apontando para a escuridão da noite e muita música de fundo. Às vezes se acha algum astrônomo passeando com uma lanterninha na mão a caminho do hotel. Isto é sinal de que algo de errado aconteceu durante as observações e tiveram que fechar a cúpula. Pode ser um problema técnico ou nuvens! E nas noites nubladas o restaurante é mesmo a única opção, a não ser que alguém organize alguma reuniãozinha. Alguns observatórios tem sala de projeção para um cinema, sala de jogos, videos e televisão. A internet mantém o astrônomo, que está alienado na montanha, informado do que se passa no resto do mundo e ajuda a passar o tempo. É na montanha também que os astrônomos têm a oportunidade de conhecer outros astrônomos do mundo inteiro"
Concluindo, a vida de um astrônomo não é fácil mesmo! Mas quando se ama uma coisa, ah, enfrentamos tudo o que vier pela frente. Esta profissão, apesar do cansaço de várias noites em claro observando, é muito gratificante. É totalmente lindo cada descoberta, cada estrela ou planeta que se observa, se estuda. Vale muito a pena!
Em breve, postarei mais sobre Como é a vida de um Astrônomo.

Um comentário:

  1. simplismente lindo! Fascinante, amo astrônomia, sou apaixonada e seria capaz de enfratar tudo isso e com alegria. Pretendo prestar vestibular ano que vem para UFRJ aonde tem a graduação em astrônomia. Queria saber se você tem outros posts sobre a vida de um astrônomo? Amei. beijos.

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